Reflexão impactante sobre igrejas que trocam a cruz por palco. Evangelho ou entretenimento? Descubra o que está em jogo.
A cada novo final de semana, milhares de jovens se reúnem em espaços que se autodenominam igrejas, mas oferecem estrutura de balada, luzes de led, open bar (sem álcool), DJs e pregadores influencers pagos como celebridades.
Tudo isso em nome de um suposto avivamento moderno, inclusivo e contextualizado.
Mas a pergunta que não quer calar é: ainda estamos falando de Igreja, ou já estamos promovendo um show?
O artigo da revista Veja, publicado em 21 de março de 2025, revelou um retrato desconcertante do cenário evangélico no Brasil.
Igrejas se multiplicam à razão de 17 por dia, segundo o IPEA, e disputam não apenas fiéis, mas corações famintos por sentido, acolhimento e propósito.
O problema? Em vez de conduzi-los à cruz de Cristo, muitos têm oferecido apenas palcos, fumaça e superficialidade.
A geração atual não busca apenas pertencer. Ela quer ser vista, validada, celebrada. E é nesse vácuo espiritual que muitas igrejas transformaram o culto em performance, o altar em palco e a pregação em TED Talk.
As Escrituras, por vezes, são citadas como legendas para fotos no Instagram, e não como espada que penetra no mais profundo da alma (Hb 4.12).
A ilusão da relevância à qualquer custo
"Não seguimos a religiosidade de forma convencional", disse uma jovem batizada após participar de uma festa gospel com DJ e coquetéis em Goiânia. De fato, o Evangelho não é convencional.
Ele confronta, fere, chama ao arrependimento. Mas quando a proposta é substituir arrependimento por aceitação incondicional, e cruz por conforto emocional, deixamos de pregar o Cristo crucificado para anunciar uma caricatura domesticada.
A missão da Igreja nunca foi ser atraente aos olhos do mundo. Paulo afirmou:
“Pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1Co 1.23).
A mensagem do Evangelho nunca dependerá de produção cênica ou artistas pagos para ser eficaz. Ela é poder de Deus para salvação (Rm 1.16).
Discipulado não é entretenimento
A estratégia de oferecer estímulo visual, som de primeira, atletas e influenciadores na entrada é eficaz para gerar atração.
Mas não forma caráter. E nem sempre forma crentes. Uma igreja que prioriza a aparência perde a profundidade.
Discipulado não se constrói com likes, mas com cruz. Jesus disse:
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24).
Essa mensagem desaparece quando o foco é agradar o público em vez de obedecer ao Senhor.
Células ou pirâmides? O risco da gestão como fim em si mesma
O modelo de crescimento por células, em si, não é antibíblico. Atos 2 mostra a igreja reunida nas casas.
O problema é quando a lógica empresarial transforma a igreja em uma franquia com metas, níveis e "oferta de honra" de até 20 mil reais por aparição.
Quando pastores são tratados como influencers, e pregadores disputados como artistas de agenda, algo se perdeu.
O ministério não é palco para estrelato, mas altar de renúncia.
A beleza da simplicidade do Evangelho
A igreja que prega a Palavra, ora com fervor, serve com amor e discipula com paciência não precisa de pirotecnia.
O poder de Deus não está nos efeitos visuais, mas na convicção do Espírito (1Ts 1.5).
João Batista não tinha luzes, banda ou redes sociais. Mas preparou o caminho do Senhor. Jesus não oferecia conforto, mas uma cruz.
Os apóstolos não tinham estrutura de eventos, mas revolucionaram o mundo. E a igreja que permanece fiel à Palavra continua a fazer isso.
Qual é o legado que queremos deixar?
Se os jovens estão vindo para Jesus por causa de luzes e influenciadores, o que os sustentará quando vierem as provas?
O emocionalismo não sustenta uma vida com Deus. A raiz precisa estar na Palavra, não na atmosfera do evento.
Ensinar a juventude a orar, jejuar, ler a Bíblia, servir, perdoar e obedecer a Cristo é muito mais difícil do que entretê-los. Mas essa é a nossa missão. E não podemos abandoná-la.
Conclusão: Ainda há um remanescente
Não escrevo este texto para condenar, mas para alertar. Muitos pastores, igrejas e líderes continuam fiéis, mesmo sem holofotes.
Continuam discipulando no secreto, pregando a cruz, intercedendo com lágrimas, e resistindo à pressão de transformar a casa de Deus em vitrine cultural.
A igreja não precisa competir com o mundo. Precisa ser aquilo que o mundo não é: sal, luz, verdade.
Que preguemos com coragem, sirvamos com humildade, e jamais troquemos o Cristo da cruz pelo Cristo do palco.
"Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos." (2Tm 4.3)
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