Descubra como o cristão pode influenciar positivamente a sociedade sem transformar a igreja em um comitê político. Um guia para politicar sem falar de
Falar de política na igreja é como pisar em um campo minado, onde cada palavra pode desencadear explosões de opiniões divergentes.
Contudo, antes que você levante as sobrancelhas e pense que estou aqui para transformar este espaço sagrado em um palanque, deixe-me esclarecer: não estou.
Este artigo não é sobre partidos, candidatos ou ideologias; é sobre algo muito mais profundo e essencial: nossa responsabilidade como cristãos em influenciar o mundo à nossa volta sem perder de vista nossa identidade celestial.
Ou seja, vamos falar de política sem falar de política.
O Paradoxo de Politicar sem Falar de Política
Você pode estar se perguntando:
“Mas, pastor, como é possível falar de política sem falar de política?”
Parece um paradoxo, não é? E, em certo sentido, é.
A grande ironia é que o Evangelho de Jesus Cristo, que pregamos todos os dias, é profundamente político, no sentido de que ele trata da maneira como as pessoas vivem juntas e como a justiça, a misericórdia e a verdade devem ser os pilares das nossas relações sociais.
No entanto, o púlpito não deve ser usado para defender agendas partidárias, mas para promover os valores do Reino de Deus, que muitas vezes desafiam as próprias bases do que conhecemos como política.
A Igreja e a Política: Guardando as Distâncias
Vamos ser claros: a igreja não é e nunca deve ser um comitê político.
Transformar a casa de Deus em um comitê eleitoral seria reduzir o sagrado ao mundano.
Nossa missão como igreja é bem maior do que qualquer eleição ou partido.
Estamos aqui para pregar o Evangelho, ensinar a Palavra e ser um refúgio de esperança e cura para as almas.
Isso não significa, porém, que devemos nos alienar das questões que afetam a sociedade.
Na verdade, temos a responsabilidade de sermos cidadãos exemplares, influenciando positivamente o ambiente em que vivemos.
O próprio Jesus deixou isso claro quando disse: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mateus 22:21, NAA).
Esta declaração não é uma licença para a omissão, mas um chamado à responsabilidade.
Somos cidadãos do céu, mas também vivemos neste mundo e temos um papel a desempenhar aqui.
O desafio é manter o equilíbrio: politicar com discernimento, sem transformar o púlpito em um campo de batalha partidário.
A Política do Reino de Deus: Justiça, Amor e Misericórdia
Se existe uma política que deve ser promovida do púlpito, é a política do Reino de Deus.
E essa política não se alinha com os partidos ou as ideologias humanas, mas com os princípios eternos de justiça, amor e misericórdia.
O profeta Miqueias nos lembra do que Deus requer de nós: "praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com o teu Deus" (Miqueias 6:8, NAA).
Isso é politicar no sentido mais puro da palavra – agir no mundo de uma maneira que reflita o caráter de Deus.
Essa política não é imposta pelo poder coercitivo do Estado, mas pelo poder transformador do amor de Deus.
Quando ensinamos sobre a responsabilidade social, sobre a necessidade de ajudar os pobres, defender os oprimidos e lutar pela justiça, estamos, na verdade, ensinando uma forma de política que transcende as divisões partidárias e se fundamenta nos princípios eternos do Reino de Deus.
A Omissão é uma Decisão Política
Agora, aqui vai uma pitada de ironia: muitos cristãos se orgulham de dizer que não se envolvem em política, acreditando que essa postura é mais santa ou mais neutra.
No entanto, a omissão também é uma escolha política.
Quando nos calamos diante da injustiça, da corrupção ou da opressão, estamos, de certa forma, endossando essas práticas.
Como diz o velho ditado, "para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada".
A Bíblia está cheia de exemplos de líderes que se levantaram contra a injustiça.
Pense em Moisés, que confrontou Faraó; em Daniel, que resistiu às leis injustas da Babilônia; e em Jesus, que denunciou a hipocrisia dos líderes religiosos de seu tempo.
Eles não se omitiram; eles agiram de acordo com a justiça de Deus.
Isso nos leva à conclusão de que, como cristãos, não temos o luxo de nos isentar das questões que afetam o bem-estar das pessoas.
Precisamos nos envolver, sim, mas com sabedoria, discernimento e, acima de tudo, com uma perspectiva que reflita o coração de Deus.
A Missão de Ser Luz e Sal
A política, em sua essência, é a arte de governar a cidade, de promover o bem comum.
E quem, senão aqueles que seguem a Cristo, está mais capacitado para influenciar o bem comum?
Jesus nos chamou para ser sal da terra e luz do mundo (Mateus 5:13-14, NAA), e essa missão inclui nossa participação na vida pública.
Não podemos nos esconder dentro das quatro paredes da igreja enquanto o mundo ao nosso redor se deteriora.
Nosso chamado é para influenciar, para fazer a diferença, para ser uma voz em defesa da justiça e da verdade.
Isso não significa que devemos transformar nossas igrejas em campos de batalha política, mas sim que devemos educar nossos membros sobre suas responsabilidades como cidadãos do céu e da terra.
Precisamos ensiná-los a votar com consciência, a participar de forma ativa e informada nas decisões que afetam a sociedade, e a lutar por um mundo mais justo e mais próximo dos valores do Reino de Deus.
A Oportunidade de Influenciar o Futuro
Por fim, quero destacar que nosso envolvimento político não é uma questão de escolha, mas de responsabilidade.
Não se trata de escolher entre ser cristão ou ser cidadão, mas de entender que ser cristão implica em ser um cidadão comprometido com o bem comum.
E é exatamente por isso que precisamos politicar sem falar de política – influenciar o mundo à nossa volta sem perder de vista o nosso chamado mais elevado.
O futuro da nossa nação, e até mesmo do mundo, depende de nossa disposição em nos envolvermos de maneira sábia e eficaz.
Como disse Edmund Burke, "ninguém comete maior erro do que aquele que não faz nada porque só pode fazer um pouco".
Que possamos ser fiéis naquilo que Deus nos confiou, e que possamos politicar – com discernimento, com amor, e com um compromisso inabalável com a justiça e a verdade.
Que Deus nos dê sabedoria para sermos luz em tempos de escuridão e sal em uma sociedade que tanto necessita de sabor.
E que, ao politicar sem falar de política, possamos cumprir nosso chamado de ser instrumentos de transformação em um mundo que clama por justiça.
Referências Bibliográficas
- Bíblia Sagrada, Nova Almeida Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil.
- Ecco, Clóvis; Oliveira, Irene Dias de. Religião, violência e suas interfaces. São Paulo: Paulinas, 2012.
- Mapas - ISBI - Volume V. Missionary Journeys of St. Paul. Chicago: Howard-Severance Co., 1915.
Não concordo não, todos tem um lado e isso fica explicito quando falamos, mesmo tentando ser imparcial.
ResponderExcluirAgradeço por compartilhar sua opinião, e entendo o ponto de vista de que, muitas vezes, nossas inclinações pessoais podem transparecer, mesmo quando tentamos ser imparciais. É verdade que todos nós temos nossas percepções e experiências que moldam como vemos o mundo, e isso pode influenciar a maneira como nos expressamos.
ExcluirNo entanto, o objetivo do artigo não é negar a existência dessas inclinações, mas sim incentivar uma abordagem mais equilibrada e consciente na discussão política, especialmente no contexto cristão. A política, assim como um jogo de xadrez, exige conhecimento, estratégias e percepções. Cada movimento deve ser pensado com cuidado, considerando não apenas o nosso lado, mas o tabuleiro como um todo.
Quando falamos de política, não devemos nos limitar a defender apenas nossos interesses ou ideologias. A verdadeira essência da política é buscar o bem comum, algo que transcende os lados opostos. Infelizmente, o que temos visto muitas vezes é uma defesa cega de interesses partidários, onde o foco é o ganho pessoal ou de grupo, em vez do que é melhor para toda a sociedade.
Ao abordar a política sob a perspectiva do bem comum, estamos tentando destacar que a nossa missão, como cristãos e cidadãos, é olhar para além das divisões e trabalhar juntos para construir uma sociedade mais justa e equitativa para todos. Não se trata de escolher um lado, mas de lutar pelo que é certo, pelo que promove a paz, a justiça e o bem-estar de todos.
Espero que essa explicação traga mais clareza sobre o propósito do artigo e que possamos continuar essa discussão de maneira construtiva. Seu feedback é muito importante e nos ajuda a refletir e aprimorar nossa abordagem.