Uma tragédia familiar. O mal em ação. Encontre esperança e respostas bíblicas profundas sobre o pecado, a família e a redenção em Jesus Cristo.
É com o coração pesado, mas com a convicção inabalável na verdade de Deus, que venho hoje refletir sobre um acontecimento que chocou a todos nós: o terrível crime em que um adolescente de apenas 14 anos tirou a vida de seus próprios pais e de seu irmão mais novo.
Notícias como essa nos deixam perplexos, com um nó na garganta e a alma em prantos. Como pode tamanha escuridão habitar um coração tão jovem?
Como um lar, que deveria ser um refúgio de amor e segurança, se transforma em palco de tamanha barbárie?
A brutalidade dos fatos — a premeditação, o uso da arma do pai, o planejamento frio, a ausência de remorso relatada pelos investigadores — nos obriga a olhar para a realidade nua e crua do pecado e suas consequências.
Não podemos nos contentar com explicações superficiais ou puramente sociológicas, por mais que elas tenham sua validade. Precisamos mergulhar nas profundezas da revelação divina para compreender a verdadeira natureza do que enfrentamos.
A Raiz do Problema: A Natureza do Pecado (Hamartiologia)
As Escrituras são claras ao nos revelar que o problema não reside apenas em atos isolados de maldade, mas em uma condição intrínseca à natureza humana desde a Queda.
O que aconteceu naquele lar é uma manifestação brutal do que a Teologia chama de depravação total.
Não significa que o ser humano seja incapaz de fazer algo "bom" em termos humanos, mas que todas as facetas do seu ser — mente, vontade, emoções — foram corrompidas pelo pecado, inclinando-se para o mal.
Herman Bavinck, em sua monumental Dogmática Reformada III: O pecado e a salvação em Cristo, nos ensina que o pecado é uma rebelião radical contra Deus.
Não é apenas uma falha moral, mas uma alienação da fonte da vida e de toda a bondade.
A atitude do adolescente, que planejou e executou tamanha atrocidade por uma razão tão fútil como a proibição de uma viagem, revela um coração escravizado por seus próprios desejos, sem a menor consideração pela vida e pelo sagrado vínculo familiar.
O texto sagrado nos adverte em Jeremias 17:9 (NAA): "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?".
Essa verdade bíblica se materializa de forma assustadora em casos como este.
Hans Walter Wolff, em sua Antropologia do Antigo Testamento, nos ajuda a perceber que o homem, mesmo na ótica veterotestamentária, não é um ser intrinsecamente bom que apenas se desvia.
Ele é um ser complexo, criado à imagem de Deus, mas profundamente afetado pela Queda. A capacidade para o mal extremo é uma realidade que a Bíblia não esconde.
A ausência de temor a Deus e a rejeição de Sua lei resultam em uma vida que caminha para a autodestruição e para a destruição de outros.
John M. Frame, em sua Systematic Theology: An Introduction To Christian Belief, ao tratar do pecado no Capítulo 36, reforça que o pecado é fundamentalmente uma rebelião contra a autoridade divina.
A recusa em honrar pai e mãe, mandamento divino com promessa (Êxodo 20:12; Efésios 6:2-3), foi levada à sua mais trágica consequência neste caso.
O desejo de autonomia ilimitada, sem a sujeição a qualquer autoridade, torna-se uma forma de idolatria de si mesmo, pavimentando o caminho para o caos.
A Família: Desestrutura e Desafios (Eclesiologia e Vida Cristã)
A família, tal como Deus a instituiu, deveria ser o berço do amor, da proteção e da educação nos caminhos do Senhor. Ralph Gower, em Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos, nos mostra a importância central da família na cultura bíblica.
Era o núcleo da sociedade, o lugar onde a fé era transmitida de geração em geração. A quebra de um vínculo familiar tão fundamental, por um filho contra os pais e o irmão, é um sinal alarmante da desintegração social e espiritual que presenciamos.
Nossa sociedade tem testemunhado, com crescente frequência, a fragilização dos laços familiares.
Problemas de comunicação, ausência de limites claros, exposição excessiva a conteúdos nocivos (como a internet sem supervisão, que pode ter tido um papel nesse caso, com a "namorada virtual") e a falta de ensino dos valores cristãos são fatores que contribuem para um terreno fértil para o mal.
Como crentes em Jesus Cristo, somos chamados a edificar lares que reflitam o Reino de Deus, lugares de paz, amor, perdão e disciplina, onde a Palavra de Deus seja a bússola.
Os Tempos Atuais e o Aumento do Mal (Escatologia)
Eventos como este nos remetem às profecias bíblicas sobre os "últimos dias". O apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 3:1-5 (NAA), descreve características terríveis desses tempos:
"Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis. Pois os seres humanos serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te também destes."
A crueldade e a falta de afeto natural, a desobediência aos pais e o egoísmo desenfreado do caso em questão, parecem ser um eco perturbador dessas palavras proféticas.
J. Rodman Williams, em sua Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal, nas páginas 1024-1025, aborda o "aumento do mal" como um dos sinais que precedem a volta de Cristo. Não se trata de fatalismo, mas de um alerta para a intensificação da batalha espiritual.
Anthony Hoekema, em A Bíblia e o Futuro, discute os sinais da tribulação e a progressão do pecado no mundo. Ele nos lembra que a tribulação não é um evento restrito ao futuro, mas uma realidade presente na era entre as duas vindas de Cristo, culminando em uma tribulação final.
A cada dia, vemos o mal se manifestar de formas mais chocantes, e isso deve nos levar a uma vigilância e oração ainda maiores.
George Eldon Ladd, em Esperança Abençoada, embora focado na segunda vinda de Jesus, nos aponta para a verdadeira esperança que transcende as trevas deste mundo.
Não importa quão sombrio o cenário possa parecer, a vinda do Senhor Jesus Cristo trará a plenitude do Reino de Deus, onde toda a maldade será finalmente erradicada. Essa esperança deve nos impulsionar a sermos instrumentos de luz hoje.
A Solução Divina: Salvação e Regeneração (Soteriologia e Pneumatologia)
Diante de tamanha escuridão, a pergunta que surge é: há esperança? Sim, meus irmãos, há esperança!
A Teologia Sistemática de Franklin Ferreira e Alan Myatt, assim como a de Wayne Grudem, nos conduzem à doutrina da Salvação (Soteriologia).
A solução para a depravação humana não está em programas sociais apenas, por mais importantes que sejam.
A mudança verdadeira e profunda acontece quando um coração é regenerado pelo Espírito Santo.
A frieza e o vazio moral que testemunhamos neste caso exigem uma intervenção divina.
É aqui que entra a Pneumatologia, o estudo do Espírito Santo, abordada por Bavinck em sua Dogmática Reformada IV: Espírito Santo, Igreja e Nova Criação.
É o Espírito que convence do pecado, que opera a regeneração, que implanta em nós uma nova natureza, que nos capacita a amar a Deus e ao próximo.
A verdadeira transformação de um coração empedernido não vem de fora para dentro, mas de dentro para fora, através da obra do Espírito Santo.
É Ele quem tira o coração de pedra e coloca um coração de carne, sensível a Deus e aos outros (Ezequiel 36:26).
Nossa Resposta Como Igreja: Oração, Ensino e Ação
Diante de um evento tão trágico, como devemos reagir como Igreja de Jesus Cristo?
Oração Constante: Precisamos orar incessantemente pelas famílias, pelos jovens, por aqueles que estão perdidos em caminhos de escuridão. Orar para que o Espírito Santo quebrante corações e os conduza ao arrependimento.
Ensino Firme da Palavra: A Igreja tem o papel de ser a coluna e o baluarte da verdade (1 Timóteo 3:15). Devemos ensinar a Palavra de Deus em sua totalidade, sem concessões, abordando a realidade do pecado, a santidade de Deus, a importância da família e a necessidade da salvação em Cristo.
Aconselhamento e Apoio: Como pastores e líderes, somos chamados a oferecer aconselhamento pastoral, a ser um ombro amigo, a guiar aqueles que enfrentam desafios familiares e espirituais. Precisamos estar atentos aos sinais de alerta em nossa comunidade e oferecer o suporte necessário.
Ser Luz e Sal: Jesus nos chamou para sermos a luz do mundo e o sal da terra (Mateus 5:13-14). Em um mundo cada vez mais sombrio, precisamos brilhar mais intensamente, mostrando o amor de Cristo em ações concretas, alcançando os perdidos e os feridos.
Vigilância Espiritual: A batalha é espiritual. Devemos estar revestidos de toda a armadura de Deus para resistir às ciladas do diabo (Efésios 6:10-18).
Este é um momento de profunda reflexão, mas também de renovada esperança. A frieza e a crueldade que vimos são a prova da intensidade do mal que age em nosso mundo.
Mas, bendito seja Deus, a luz de Cristo é infinitamente mais poderosa do que qualquer escuridão.
O Evangelho é a única mensagem que pode transformar corações, restaurar lares e trazer vida onde há morte.
Que o Senhor nos conceda sabedoria para vivermos nestes tempos difíceis, discernimento para agirmos com amor e firmeza, e uma fé inabalável na Sua soberania e no poder transformador do Evangelho.
Em Cristo, que é a nossa única Esperança Abençoada,
Pastor Miquéias Tiago.
Referências Bibliográficas:
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada III: O pecado e a salvação em Cristo. Organizado por John Bolt. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2012.
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada IV: Espírito Santo, Igreja e Nova Criação. Organizado por John Bolt. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2012.
FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.
FRAME, John M. Systematic Theology: An Introduction To Christian Belief. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2013.
GOWER, Ralph. Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos. Tradução de Neyd Siqueira. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
HOEKEMA, Anthony A. A Bíblia e o Futuro. Tradução de Karl H. Kepler. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989.
LADD, George Eldon. Esperança Abençoada: Um estudo bíblico da segunda vinda de Jesus e do arrebatamento. Tradução de Regina Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2016.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.
WILLIAMS, J. Rodman. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. Tradução de Sueli Saraiva e Lucy Hiromi Kono Yamakami. São Paulo: Editora Vida, 1996.
WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. Tradução de Uwe Wegner e Rodolfo Gaede Neto. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Hagnos, 2004.
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